segunda-feira, 15 de fevereiro de 2016

Exercício Físico e Câncer



Hoje em dia, o tratamento do câncer busca, além da manutenção ou prolongamento da vida, promover a sobrevivência humanizada e com maior qualidade. Para tanto, atrela a qualidade de vida e a autonomia do paciente ao seu nível de aptidão física e capacidade funcional, tendo nos exercícios uma terapia alternativa para aumento das capacidades físicas e combate à fadiga relacionada ao câncer.
Indivíduos com câncer desenvolvem um quadro de catabolismo intenso, que podem resultar em caquexia, fadiga intensa, náuseas, depressão, atrofia muscular, diminuição da capacidade aeróbia, diminuição da força e flexibilidade, e perda de massa muscular. Estes fatores contribuem para o decréscimo da qualidade de vida (COURNEYA, FRIEDENREICH, 1999). Para minimizar esses problemas, atualmente muitos pesquisadores têm estudado como algumas atividades podem melhorar a qualidade de vida destes indivíduos, entre as quais estão os exercícios físicos (MCNEELY et al., 2006; KNOLS et al., 2005; UHLENBRUCK, ORDER, 1991, ORTEGA et al., 1998; COURNEYA et al., 2007). 
A implantação de um programa de exercícios físicos pode ser fei­ta em quaisquer das três fases após o diagnóstico de câncer; porém, em cada fase, os objetivos e a consequente modulação dos mesmos serão distintas.
Fase pré-tratamento: compreende o período entre o diagnóstico da doença e o início do tratamento. Os objetivos serão voltados para melhora do estado funcional geral, prevenção e atenuação do declínio funcional durante o tratamento, auxiliar o indivíduo a en­frentar emocional e psicologicamente a doença enquanto espera o tratamento. Para os indivíduos já praticantes de alguma atividade física, deve-se priorizar a manutenção da atividade e, para os não praticantes, o engajamento progressivo em um programa (MCNEELY et al., 2006).
Durante o tratamento: o foco desta fase será voltado para pacientes que se encontram durante o tratamento, seja ele de qualquer natu­reza (cirúrgico, quimioterapia, radioterapia, hormônio, imunoterapia e transplante). Visando atenuar os efeitos colaterais e a toxidade dos tratamentos, manutenção das funções físicas e composição corporal, manu­tenção/melhora da capacidade funcional e força muscular (KNOLS et al., 2005), estado de humor e qualidade de vida, facilitar a conclusão do tratamento, e potencializar a eficácia dos tratamentos (COURNEYA et al., 2007).
Fase pós-tratamento: a abordagem neste período será direcionada para os sobreviventes, ou seja, indivíduos que já terminaram o tratamento, sendo o exercício essencial no processo de recuperação e otimização do estado de saúde geral e qualidade de vida (COURNEYA et al., 2007).
Alguns estudos concluídos até o momento mostram efeitos benéficos da atividade física contra o câncer, pois há grande quantidade de publicações científicas sobre a importância do exercício físico no tratamento e na reabilitação de pacientes com câncer (UHLENBRUCK, ORDER, 1991, ORTEGA et al., 1998).
Embora diferentes estudos mostrem que a atividade física tem contribuição na redução da mortalidade de indivíduos com câncer e na promoção de seu bem-estar, ainda não há um consenso em relação à intensidade, tanto nos estudo com animais quanto em humanos. Isso porque além da dificuldade na realização de alguns estudos, também há a extensão dos tipos de câncer e das formas de ação destes no organismo cognitivo (PEDROSO, ARAÚJO, STEVANATO, 2005). Alguns estudos indicam que intensidade moderada de exercício e atividades ocupacionais são a mais recomendáveis para reduzir o risco de câncer (DORGAN et al, 1994; PAFFENBARGER, HYDE, WING, 1987; ORTEGA et al., 1998; FRIENDEREICH, COURNEYA, BRYANT, 2001), apesar alguns estudos defenderem que os exercícios de alta intensidade também sejam recomendáveis para reduzir o risco de câncer (DORN et al., 2006; SLATTERY, POTTER, 2002).
Todo cuidado é necessário para com este público, logo, na minha humilde opinião, recomendo a prática de exercícios moderados bem orientada.

Referências

COURNEYA, K. et al. Effects of Aerobic and Resistance Exercise in Breast Cancer Patients Receiving Adjuvant Chemotherapy: A Multicenter Randomized Controlled Trial. Journal of Clinical Oncology. Alexandria. Vol. 25. Núm. 28. 2007 p. 4396-4404.

COURNEYA, K. S.; FRIEDENREICH, C. M. Physical activity and cancer control. Semin Oncol Nurs. Vol. 23. 2007. p. 242-252.

DORN, J. et al. Lifetime physical activity and breast cancer risk in pre and postmenopausal woman. Medicine and Science in Sports and Exercise, Indianápolis. Vol. 35. Núm. 2. 2003. p. 278-285.

DORGAN, J. F. et al. Physical activity and risk of breast cancer in the Framingham study. Am J Epidemiol. Vol. 139. Núm. 662. 1994. 20

FRIENDEREICH, C. M.; COURNEYA, K. S.; BRYANT, H. E. Relation between intensity of physical activity and breast cancer risk reduction. Medicine and Science in Sports and Exercise. Indianápolis. Vol. 33. Núm. 9. 2001. p. 1538-1545.

KNOLS, R. et al. Physical exercise in cancer patients during and after medical treatment: a systematic review of randomized and controlled trials. J Clin Onco. Vol. 23. 2005. p. 3830-3842.

MCNEELY, M. L. et al. Cancer rehabilitation: recommendations for integrating exercise programming in the clinical practice setting. Current Cancer Therapy Reviews.Vol. 2. 2006.

ORTEGA, E. et al. A atividade física reduz o risco de câncer?. Rev Bras Med Esporte. Vol. 4. Núm. 3. 1998.

PAFFENBARGER, R. S.; HYDE, R. T.; WING, A. L. Physical activity and incidence of cancer in diverse populations: a preliminary report. Am J Clin Nutr. Vol. 45. Núm. 3012. 1987.

PEDROSO, W.; ARAÚJO, M. B.; STEVANATO, E. Atividade física na prevenção e na reabilitação do câncer. Motriz. Vol.11. Núm. 3. 2005. p.155-160.

SLATTERY, M; L.; POTTER, J. D. Physical activity and colon cancer: confounding or interaction?. Medicine and Science in Sports and Exercise, Indianápolis. Vol. 34. Núm. 6. 2002. p. 913-919.

UHLENBRUCK, G.; ORDER, U. Can endurance sports stimulate immune mechanisms against cancer and metastasis. Int J Sports Med. Vol12. Núm. 63. 1991.


sábado, 13 de fevereiro de 2016

Dislipidemia e Exercício Físico


A atividade física exerce uma ação favorável sobre o perfil lipídico, principalmente nos casos de hipertrigliceridemia, níveis diminuídos de lipoproteínas de alta densidade (HDL) e alterações nas subfrações da lipoproteína de baixa densidade (LDL) (LACOUR, 2001).
Triglicérides e HDL - Uma única sessão de exercício pode diminuir os níveis de triglicérides e aumentar os níveis de HDL de forma fugaz, desaparecendo o efeito num período em torno de dois dias. Isso ressalta a importância da realização regular de exercício físico no combate às dislipidemias. Programas de treinamento físico com um gasto calórico semanal de 1200 a 2200 kcal são suficientes para provocar um efeito favorável nos níveis de lipídeos séricos. Mesmo com mudanças mínimas no peso corporal, quanto maior o gasto calórico semanal, maiores os benefícios para a lipemia (concentração de lipídeos no sangue) (LACOUR, 2001).
LDL - O exercício não parece alterar os níveis plasmáticos de LDL total, mas provoca uma diminuição das partículas pequenas e densas de LDL e um aumento do seu tamanho médio. A carga de treinamento necessária para obter esse benefício equivale a um gasto calórico equivalente a 23 kcal/kg por semana, o que para uma pessoa com 75 kg equivaleria a um gasto semanal de 1700 kcal. A mudança nas partículas do LDL provocada pelo exercício é independente de alterações nos valores do LDL total (Piepoli et al., 1996).

Referências

Lacour JR. Lipid metabolism and exercise. Rev Prat. 2001. Ano 51. p. 36-41.


Piepoli M, Clark AL, Volterrani M, Adamopoulos S, Sleight P, Coats AJ. Contribution of muscle afferents to the hemodynamic, autonomic, and ventilatory responses to exercise in patients with chronic heart failure: effects of physical training. Circulation. 1996. Ano 93. p. 940-52.


sábado, 6 de fevereiro de 2016

Princípio da individualidade biológica no treinamento desportivo


Segundo Tubino (1984), “define-se individualidade biológica o fenômeno que explica a variabilidade entre elementos da mesma espécie, o que faz com que não existam pessoas iguais”. Cada ser humano possui uma estrutura e uma formação física e psíquica próprias e, por isso, individualizar os estímulos de treinamento apresentaria melhores resultados, uma vez que seriam obedecidas as características e as necessidades individuais dos praticantes de esporte.
Isso possibilita o entendimento de como crianças da mesma faixa etária, ou atletas da mesma especialidade, podem ter respostas diferenciadas frente a um mesmo tipo de treinamento. Pode-se, inclusive, chegar aos mesmos desempenhos por meio de atividades totalmente distintas.
Cada indivíduo é único e, por isso, cada indivíduo traz para o esporte as suas próprias aptidões, capacidades e respostas aos estímulos do treino. Crianças e atletas diferentes responderão de formas diferentes ao mesmo tipo de treino. Assim, não existe uma forma de treino ideal que produza resultados ótimos para todos. O professor-treinador precisa entender esse princípio e aplicá-lo, de forma a respeitar os diferentes tempos de aprendizagem que os alunos apresentam para uma determinada tarefa, ou mesmo compreender a lentidão na melhora do desempenho de um aluno-atleta. Esse conhecimento deve englobar os vários fatores que afetam a organização do programa individual de treino, dentre os quais destacamos: a hereditariedade, a idade biológica e a idade de treino.

Referência

TUBINO, Manoel José Gomes. Metodologia científica do treinamento desportivo. 3.ed. São Paulo: Ibrasa, 1984.