quarta-feira, 22 de janeiro de 2014

Influência do carboidrato e da cafeína na absorção e no armazenamento da creatina no músculo


Dentre os recursos ergogênicos, os quais existem estudos sobre um possível aumento no rendimento físico está a creatina, que tem se tornado um dos mais populares ultimamente. Os efeitos dessa substância se baseiam na teoria de que a suplementação aumentaria a força e a velocidade nas atividades físicas, nas quais a fonte de energia predominante é proveniente do sistema energético ATP-CP (Alves, 2002).
A creatina é uma substância osmoticamente ativa. Com isso, o aumento da concentração intracelular de creatina pode induzir o fluxo de água para o interior das células, explicando em parte o aumento da massa corporal magra observado após o período de carga da suplementação de creatina (Volek e colaboradores, 1997; Francaux e Poortmans, 1999; Mujika e colaboradores, 2000). Muitos estudos indicam que a dose de carga da suplementação de creatina leva ao aumento da massa corporal total (Balsom e colaboradores, 1993; Francaux e Poortmans, 1999; Volek e colaboradores, 1997; Volek e colaboradores, 1999) e da massa corporal magra (Becque e colaboradores, 2000; Kirksey e colaboradores, 1999; Mihic e colaboradores, 2000; Peeters e colaboradores, 1999; Volek e colaboradores, 1999). 
Segundo Green e colaboradores (1996a) e Green e colaboradores (1996b), a combinação de creatina com carboidrato faz com que os estoques musculares de creatina atinjam, mais facilmente, o seu limite máximo. Provavelmente esse efeito é mediado pela insulina (Steenge e colaboradores, 1998; Williams e colaboradores, 1999). Esses dois estudos realizados por Green e colaboradores demonstraram que, combinando creatina com carboidrato simples, como a glicose, ocorre aumento do transporte de creatina dentro do músculo, mesmo em indivíduos com níveis de creatina muscular próximos do normal. Em um destes estudos foi administrada uma solução de 5 gramas de creatina e em torno de 90 gramas de carboidratos simples, sendo essa dose consumida quatro vezes ao dia, durante cinco dias. Tanto os suplementados com creatina pura quanto os que receberam creatina adicionada de carboidrato tiveram aumentos da quantidade total de creatina e creatina-fosfato, mas os que foram suplementados com creatina adicionada de carboidrato tiveram aumento de 10% a mais de creatina, em comparação ao grupo que recebeu creatina pura.
Um outro estudo, desenvolvido por Stout e colaboradores (1999), avaliou o efeito da suplementação de creatina sobre a capacidade anaeróbia, dividindo a amostra  de 26 indivíduos em três grupos, os quais receberam doses contendo 35 gramas de carboidrato (dextrose) como solução placebo, 5,25 gramas de creatina mais um grama de carboidrato ou 5,25 gramas de creatina mais 33 gramas de carboidrato, quatro vezes ao dia, durante seis dias. O grupo que recebeu 5,25 gramas de creatina mais 33 gramas de carboidrato por dose teve incremento de 30,7% da capacidade anaeróbia versus 9,4% de incremento do grupo que recebeu 5,25 gramas de creatina mais um grama de carboidrato.
A cafeína parece exercer efeito contrário ao do carboidrato no que diz respeito ao armazenamento de creatina no músculo.
Um estudo desenvolvido por Vandenberghe e colaboradores (1996) mostrou que o consumo de cafeína juntamente com a creatina (0,5 grama de creatina /kg de peso associado a 5 mg de cafeína/kg de peso/ dia, durante oito dias) atrapalhou o efeito da suplementação de creatina sobre o aumento das concentrações musculares de creatina-fosfato no músculo e, com isso, não houve melhora da performance. Segundo os autores, a cafeína ingerida na dose de 400 mg, que equivale a aproximadamente 3,5 xícaras de café, faz com que se perca o efeito ergogênico da creatina.

Observação: Antes de se submeter a qualquer tipo de dieta ou suplementação um nutricionista deverá ser consultado.


Referências bibliográficas

Alves, L. A. Recursos ergogênicos nutricionais. Revista do Ministério da Educação Física. Viçosa. Vol. 10. Núm. 1. 2002. p. 23-50.

Balsom, P. D.; e colaboradores. Skeletal muscle metabolism during short duration high- intensity exercise: influence of creatine supplementation. Acta Physiologica Scandinavica. Vol. 154.  1995. p. 303-310. 

Becque, M. D.; e colaboradores. Effects of oral creatine supplementation on muscular strength and body composition. Medicine and

Science in Sports and Exercise. Vol. 32. Núm. 3. 2000. p. 654-658.

Francaux, M.; Poortmans, J. R. Effect of training and creatine supplementation on muscle strength and body mass. European Journal of Applied Physiology. Vol. 80. 1999. p. 165-168.

Green, A L.; e colaboradores. Carbohydrate ingestion augments creatine retention during creatine feeding in humans. Acta Physiologica Scandinavica. Vol. 158. 1996a. p. 195-202. 

Green, A L.; e colaboradores. Carbohydrate ingestion augments skeletal muscle creatine accumulation during creatine supplementation in humans. American Journal of Physiology. Vol. 271. 1996b. p. 821-826.

Kirksey, B.; e colaboradores. The effects of 6 weeks of creatine-monohydrate supplementation on performance measures and body composition. Journal of Strength and Conditioning Research. Vol. 13. Núm. 2. 1999. p. 148-156.

Mihic, S.; e colaboradores. Acute creatine loading increases fat free mass, but does not affect blood pressure, plasma creatinine, or CK activity in men and women. Medicine & Science in Sports and Exercise. Vol. 32. Núm. 2. 2000. p. 291-296.

Mujika, I.; e colaboradores. Creatine supplementation and sprint performance in soccer player. Medicine and Science in Sport and Exercise. Vol. 32. Núm. 2. 2000. p. 518- 525.

Peeters, B. M., Lantz, C. D., Mayhew, J. L. Effect of oral creatine monohydrate and creatine phosphate supplementation on maximal strength indices, body composition, and blood pressure. Journal of Strength and Conditioning Research. Vol. 13. Núm. 1. 1999. p. 3-9.

Steenge, G. R., Lambourne, J., Casey, A. e colaboradores. Stimlulatory effect os insulin on creatine accumulation in human skeletal muscle. American Journal of Physiology. Vol. 275. 1998. p. 974-979.

Stout, J. R.; e colaboradores. The effects of creatine supplementation on anaerobic capacity. Journal of Strength and Conditioning Research. Vol. 13. Núm. 2. 1999. p. 135-138.

Vandenberghe, K. et al. Caffeine counterects the ergogenic action of muscle creatine loading. J. App. Physiol., v. 80, p.452-458, 1996.

Volek, J. S.; e colaboradores. Creatine supplementation enhances muscular performance during high-intensity resistance exercise. Journal of the American Dietetic Association. Vol. 97. 1997. p. 756-770. 

Volek, J. S.; e colaboradores. Performance and muscle fiber adaptations to creatine supplementation and heavy resistance training. Medicine and Science in Sport and Exercise. Vol. 31. Núm. 8. 1999. p. 1147-1156.

Williams, Melvin H. The ergogenic edge: pushing the limits of sports performance. Human Kinetics. 1999.

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