Segundo a
Organização Mundial da Saúde, reabilitação cardíaca é o somatório das
atividades necessárias para garantir aos pacientes portadores de cardiopatia as
melhores condições física, mental e social, de forma que eles consigam, pelo
seu próprio esforço, reconquistar uma posição normal na comunidade e levar uma
vida ativa e produtiva1.
Há quatro
décadas, quando esta definição foi estabelecida, os pacientes acometidos de
infarto do miocárdio apresentavam grande perda da capacidade funcional, mesmo
após serem submetidos ao tratamento daquela época, que implicava até 60 dias de
repouso no leito. Por ocasião da alta hospitalar, os pacientes encontravam-se
fisicamente mal condicionados, sem condições para retornar às suas atividades
familiares, sociais e profissionais. Os programas de reabilitação cardíaca
foram desenvolvidos com o propósito de trazer esses pacientes de volta às suas
atividades diárias habituais, com ênfase na prática do exercício físico,
acompanhada por ações educacionais voltadas para mudanças no estilo de vida2.
Atualmente, as
novas técnicas terapêuticas permitem que a maioria dos pacientes tenha alta
hospitalar precocemente após infarto, sem perder a capacidade funcional.
Excluem-se desta condição os pacientes com comprometimento miocárdico grave e
instabilidade hemodinâmica, distúrbios importantes do ritmo cardíaco, necessidade
de cirurgia de revascularização miocárdica ou outras complicações não-cardíacas2.
Nos últimos
anos, foram descritos inúmeros benefícios do exercício regular para portadores
de cardiopatia, além da melhora na capacidade funcional2.
Além de dar
ênfase à prática da atividade física, os programas de reabilitação cardíaca
também envolvem outras ações desenvolvidas por profissionais das áreas de
enfermagem, nutrição, assistência social e psicologia visando modificar outros
aspectos que contribuem com a diminuição do risco cardíaco de forma global 3,4.
O paciente e,
eventualmente, membros de sua família, recebem informações sobre a
fisiopatologia da doença cardíaca, os mecanismos de ação das drogas em uso, a
relação da doença com a atividade física diária e as possíveis implicações na
sua vida sexual e profissional. Quando necessário, os hábitos alimentares e
aspectos nocivos do estilo de vida são reformulados, com especial ênfase na
cessação do tabagismo. As intervenções psicológicas também devem ser
consideradas, visando ao controle do estresse, o que pode ser obtido por meio
de técnicas de relaxa- mento, terapia de grupo e tratamento da depressão2.
Os pacientes
que aderem a programas de reabilitação cardíaca apresentam inúmeras mudanças
hemodinâmicas, metabólicas, miocárdicas, vasculares, alimentares e psicológicas
que estão associadas ao melhor controle dos fatores de risco e à melhora da
qualidade de vida. Nos pacientes portadores de cardiopatia isquêmica e de
insuficiência cardíaca, a reabilitação cardíaca reduz as mortalidades
cardiovascular e total. Somado a esses benefícios, os programas de reabilitação
cardíaca, quando adequadamente conduzidos, são seguros e muito custo/efetivos,
devendo ser oferecidos a todos os pacientes2.
Referências
1. Brown RA. Rehabilitation of
patients with cardiovascular diseases. Report of a WHO expert committee. World
Health Organ Tech Rep Ser. 1964; 270: 3-46.
2. Sociedade Brasileira de
Cardiologia. Diretrizes de Reabilitação Cardíaca. Arquivos Brasileiros de
Cardiologia. 2005; 84(5): 431-39.
3. Canadian Association of
Cardiac Rehabilitation. Canadian guidelines for cardiac rehabilitation and
cardiovascular disease prevention. 1st ed. Winnipeg, 1999.
4. Stone JA, Cyr C, Friesen M,
Kennedy-Symonds H, Stene R, Smilovitch M. Canadian guidelines for cardiac
rehabilitation and atherosclerotic heart disease preven- tion: a summary. Can J
Cardiol. 2001; 17: 3B-30B.