Introdução
Com
o crescente aumento de mulheres que praticam exercícios físicos e esportes de
forma regular, é importante que o especialista nas áreas clínicas se mantenha
atualizado sobre os benefícios e riscos da prática esportiva durante a gravidez,
no sentido de promover uma orientação segura e precisa para suas pacientes
grávidas.
A
gestação é um período onde diversas alterações fisiológicas e mecânicas ocorrem
na mulher, necessitando de meios que reduzam essas alterações mantendo o bem
estar. O período gestacional compreende diversas mudanças corporais. São
aproximadamente 36 semanas de gravidez, em que a gestante sofre adaptações
fisiológicas e anatômicas. Durante a gestação, o crescimento e desenvolvimento
do feto e do útero, provocam mudanças na forma, no tamanho e na inércia materna.
Durante
a gestação, o corpo da grávida passa por uma série de adaptações envolvendo
diversos aparelhos e sistemas, dentre eles, o respiratório, o cardíaco, o ósseo
e o muscular. Essas modificações são de nível fisiológico e mecânico. Ao compreender
essas alterações, os profissionais de saúde envolvidos podem intervir proporcionando
melhoria, bem-estar e qualidade de vida às gestantes.
De
acordo com as publicações do American College of Obstetricians and Gynecologists
(ACOG), o exercício regular promove benefícios para a saúde e, praticado
durante a gravidez, pode afetar a saúde da mulher para o resto da vida. Os
exercícios físicos podem ser realizados por gestantes sedentárias, atletas ou
com um estilo de vida ativo, e até por aquelas com complicações médicas e
obstétricas. Apesar de apresentarem mudanças anatômicas e fisiológicas, há
poucas instâncias que impedem a prática de exercícios por mulheres grávidas.
A
atividade física no período gestacional é recomendada mediante ausência de qualquer
anormalidade, após uma avaliação médica especializada. O exercício físico deve
ser prescrito por um profissional de educação física a fim de controlar
qualquer variável ou sintoma gravídico para evitar, prevenir ou sanar
complicação ou doença.
Mas
em alguns casos há contraindicações da prática de exercícios durante a gravidez,
a seguir veremos alguns benefícios e algumas contraindicações para a prática de
exercícios físicos.
Benefícios
do exercício físico na gravidez
As
mulheres sedentárias apresentam um considerável declínio do condicionamento
físico durante a gravidez. Além disto, a falta de atividade física regular é um
dos fatores associados a uma susceptibilidade maior a doenças durante e após a
gestação.
Há
um consenso geral na literatura científica de que a manutenção de exercícios de
intensidade moderada durante uma gravidez não-complicada proporciona inúmeros
benefícios para a saúde da mulher.
Apesar
de ainda existirem poucos estudos nesta área, exercícios resistidos de
intensidade leve a moderada podem promover melhora na resistência e
flexibilidade muscular, sem aumento no risco de lesões, complicações na
gestação ou relativas ao peso do feto ao nascer. Consequentemente, a mulher
passa a suportar melhor o aumento de peso e atenua as alterações posturais
decorrentes desse período.
A
atividade física aeróbia auxilia de forma significativa no controle do peso e
na manutenção do condicionamento, além de reduzir riscos de diabetes
gestacional, condição que afeta 5% das gestantes. A ativação dos grandes grupos
musculares propicia uma melhor utilização da glicose e aumenta simultaneamente
a sensibilidade à insulina.
Os
estudos também mostram que a manutenção da prática regular de exercícios
físicos ou esporte apresenta fatores protetores sobre a saúde mental e
emocional da mulher durante e depois da gravidez. Além disso, existem dados sugestivos
de que a prática de exercício físico durante a gravidez exerce proteção contra
a depressão puerperal.
Na
literatura há alguns estudos envolvendo exercícios para a musculatura pélvica
durante a gravidez. Eles são unânimes em afirmar os benefícios deste tipo
específico de exercício como forma de prevenção à incontinência urinária
associada à gravidez.
Contra-indicações de
exercício durante a gravidez
O exercício regular é
contraindicado em mulheres com as seguintes complicações:
Contraindicações
absolutas
>> Doença miocárdica
descompensada;
>> Insuficiência cardíaca
congestiva;
>> Tromboflebite;
>> Embolia pulmonar recente;
>> Doença infecciosa aguda;
>> Isoimunização grave;
>> Paciente sem acompanhamento
pré-natal ;
>> Risco de parto prematuro;
>> Suspeita de estresse fetal;
>> Sangramento uterino;
>> Doença hipertensiva
descompensada.
Contraindicações
relativas
>> Hipertensão essencial;
>> Anemia grave;
>> Limitações ortopédicas;
>> Bronquite crônica;
>> Doenças tireoidianas;
>> Diabetes
mellitus descompensado;
>> Obesidade mórbida;
>> Arritmia cardíaca
grave.
Prescrição de
exercícios físicos para mulheres grávidas
Todas
as mulheres que não apresentam contraindicações devem ser incentivadas a realizar
atividades aeróbias, de resistência muscular e alongamento. As mulheres devem escolher
atividades que apresentem pouco risco de perda de equilíbrio e de traumas. O
trauma direto ao feto é raro, mas é prudente evitar esportes de contato ou com alto
risco de colisão.
Deve-se
tomar o cuidado de não se exercitar vigorosamente em climas muito quentes e de
prover a hidratação adequada, de modo a não prejudicar a termorregulação da mãe.
Com
base em pesquisas na área de exercício e gravidez, o Sports Medicine
Australia elaborou as seguintes recomendações:
>> em grávidas
já ativas, manter os exercícios aeróbios em intensidade leve a moderada durante
a gravidez, de 20 a 60 minutos;
>> evitar
treinos em frequência cardíaca acima de 140 bpm;
>> exercitar-se
três a quatro vezes por semana;
>> em atletas é
possível exercitar-se em intensidade mais alta com segurança;
>> os
exercícios resistidos também devem ser moderados;
>> evitar as
contrações isométricas máximas;
>> evitar
exercícios na posição com a cabeça baixa e com a barriga voltada para baixo;
>> evitar
exercícios em ambientes quentes e piscinas muito aquecidas, pode causar
hipotensão;
>> evitar apneias ou manobras de Valsalva;
>> evitar
exercícios também em ambientes frios e piscinas frias demais, pode causar hipertensão;
>> desde que se
consuma uma quantidade adequada de calorias, exercício e amamentação são
compatíveis;
>> interromper
imediatamente a prática esportiva se surgirem sintomas como dor abdominal,
cólicas, sangramento vaginal, tontura, náusea ou vômito, palpitações e
distúrbios visuais e procurar um médico especialista;
>> não existe
nenhum tipo específico de exercício que deva ser recomendado durante a
gravidez. A grávida que já se exercita deve manter a prática da mesma atividade
física que executava antes da gravidez, desde que os cuidados acima sejam
respeitados.
Considerações
finais
A
gravidez envolve várias mudanças fisiológicas e motoras na mulher. É o período
em que todo o corpo se adapta para formar, abrigar e desenvolver uma nova vida
que virá após nove meses de gestação. Essas adaptações envolvem vários órgãos e
sistemas e, durante o período gestacional, alterações no equilíbrio,
coordenação e controle de movimentos afetam as atividades e a rotina diária da
vida da mulher.
Os
exercícios físicos são indicados para a prevenção ou melhoria dos sintomas gravídicos
e sua prática promove benefícios não só para a mãe como para o bebê. Para a
prática de exercícios, as mulheres devem ser liberadas pelo médico especialista
e a prescrição tem que ser feita por um profissional de educação física.
A
intensidade dos exercícios varia de acordo com a rotina da gestante. Porém, com
o avanço da gravidez, as novas alterações fisiológicas naturais e o ganho de
peso prejudicam a prática do exercício nas mesmas intensidades, exigindo que haja
um maior controle por parte da mãe e do professor.
O
exercício ideal é aquele em que a gestante se sinta bem e confortável. Por
isso, a escolha da modalidade deve partir da gestante, desde que respeite as condições
provenientes da gravidez e qualquer mudança ou sintoma que acusem qualquer tipo
de doença. O profissional de educação física deve estar bem informado e
conhecer todas as alterações e sintomas desse período, para que a prática dos
exercícios seja sempre benéfica não só para a mãe, mas para o bebê que virá.
Referências
LIMA, F. R.; OLIVEIRA, N. Gravidez e Exercício. Rev
Bras Reumatol,
v. 45, n. 3, p. 188-90, mai./jun., 2005
AZEVEDO, R. A.; MOTA,
M. R.; SILVA, A. O.; DANTAS, R. A. E. Exercício
Físico durante a gestação: uma prática saudável. Universitas: Ciências da
Saúde, Brasília, v. 9, n. 2, p. 53-70, jul./dez. 2011
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