No treinamento de força,
diversos fatores são influenciados pela duração do intervalo de descanso entre
as séries, como: recuperação das fontes de energia, concentrações sangüíneas de
lactato, quantidade de trabalho realizado (carga x repetições) e capacidade
neural (Gentil, 2005).
Séries com números
elevados de repetições e curtos intervalos de descanso apresentam maior acúmulo
de lactato. Com relação ao número de repetições, Abernethy & Wehr (1997)
demonstraram que protocolos que utilizaram 15RM apresentam maiores
concentrações de lactato no sangue quando comparado com 5RM. Resultados
similares foram encontrados por Kraemer et al. (1990) ao comparar treinos de 10
e 5RM.
Ao analisar os efeitos de
diferentes intervalos entre as séries, Kraemer et al. (1990) verificaram que a
realização de séries de 10RM com um minuto de intervalo promove um maior
acúmulo de lactato em comparação a séries com três minuto. Deste modo, é
possível inferir que a utilização de intervalos curtos (1 minuto) favoreça um
maior acúmulo de metabólitos, o que pode ser benéfico para se promover ganhos
de força e hipertrofia. Desta forma, pode-se sugerir intervalos curtos entre as
séries com estímulos metabólicos, pode ser uma estratégia eficiente mesmo que
sejam utilizadas cargas relativamente baixas (Takarada & Ishii, 2002).
Por outro lado, ao
considerarmos os fatores neurais, recomenda-se um maior intervalo de descanso
entre as séries para haja uma melhor recuperação do sistema nervoso e
energético, o que possibilitará ativar uma quantidade suficiente de unidades
motoras capazes de suportar a mesma carga e realizar o mesmo trabalho na
próxima série (Kraemer e Hakkinen, 2004). Neste caso, para minimizar a fadiga e
aumentar a capacidade de desenvolver força, alguns autores sugerem intervalos
de dois a quatro minutos (Woods et al., 2004), no entanto esta recomendação
pode chegar a oito minutos em treinos específicos de atletas de força e
potência muscular (Verkhoshansky, 1998).
De fato é verificado que
intervalos curtos de descanso dificultam, ou até mesmo impossibilitam que se
realize o mesmo trabalho nas séries subseqüentes. Richmond & Godard (2004),
verificaram que intervalos mais longos possibilitam que as séries seguintes
sejam realizadas com maior número de repetições, contribuindo para um maior
volume de trabalho. Kraemer (1997) verificou que três minutos de descanso entre
as séries foi suficiente para que atletas de futebol americano completassem
10RM no Leg Press e no Supino com a mesma carga da série anterior, no entanto o
mesmo não ocorreu com um minuto de intervalo. Por outro lado, ao avaliar homens
moderadamente treinados Willardson & Burket (2005), concluíram que mesmo
com cinco minutos de intervalo não foi possível realizar o mesmo trabalho em
quatro séries de supino ou agachamento com carga de 8RM.
Resumindo, treinos com
características metabólicas são mais eficientes com intervalos curtos de
descanso entre as séries, pois o objetivo é aumentar as concentrações de
metabólitos. Já treinos com características tensionais o intervalo deve ser
longo para se obter uma recuperação neural adequada (Gentil, 2005). Entretanto,
é essencial que haja uma manipulação cuidadosa do intervalo de descanso para
evitar um estresse inadequado e desnecessário.
Referências Bibliográficas
Abernethy
PJ, Wehr M. Ammonia and lactate response to leg press work at 5 and 15 RM. J.
Strength Cond. Res. 11(1):40-44, 1997.
Gentil P. Bases científicas do treinamento de
hipertrofia. Rio de Janeiro. Sprint. 2005.
Kraemer WJ & Hakkinen K. Treinamento de força
para o esporte. Porto Alegre. Artmed. 2004.
Kraemer WJ, Marchitelli LJ, McCurry YD, Mello R.,
Dziados JE, Harman EA, Frykman PN, Gordon SE. Fleck
S. Hormonal a growth factor responses to heavy resistance exercise. J Appl.
Physiol. 69:1442-1450, 1990.
Richmond
SR, Godard MP. The effects of varied rest periods between sets to failure using
the bench press in recreationally trained men. J. Strength Cond. Res. 18
(4):846-849, 2004.
Takarada
I & Ishii N. Effects of Low-Intensity Resistance Exercise With Short
Interset Rest Period on Muscular Function in Middle-Aged Women. J Strength Cond. Res.
Vol.16 n°1 pp:123–128, 2002.
Verkhoshanski YV. Força: Treinamento de potencia
muscular – Método de choque. Londrina, CID, 1998.
Willardson,
J.M., and L.N. Burkett. A comparison of 3 different rest intervals on the
exercise volume completed during a workout. J. Strength Cond. Res. 19(1):23–26.
2005.
Woods
S, Bridge T, Nelson D, Risse K, Pinciveiro DM. The effects of rest interval
length on ratings of perceived exertion during dynamic knee extension exercise.
J. Strength
Cond. Res. 2004, 18(3), 540–545. 2004.