Hoje em dia, o tratamento do
câncer busca, além da manutenção ou prolongamento da vida, promover a
sobrevivência humanizada e com maior qualidade. Para tanto, atrela a qualidade
de vida e a autonomia do paciente ao seu nível de aptidão física e capacidade
funcional, tendo nos exercícios uma terapia alternativa para aumento das
capacidades físicas e combate à fadiga relacionada ao câncer.
Indivíduos com câncer
desenvolvem um quadro de catabolismo intenso, que podem resultar em caquexia,
fadiga intensa, náuseas, depressão, atrofia muscular, diminuição da capacidade
aeróbia, diminuição da força e flexibilidade, e perda de massa muscular. Estes
fatores contribuem para o decréscimo da qualidade de vida (COURNEYA, FRIEDENREICH,
1999). Para minimizar esses problemas, atualmente muitos pesquisadores têm
estudado como algumas atividades podem melhorar a qualidade de vida destes
indivíduos, entre as quais estão os exercícios físicos (MCNEELY
et al., 2006; KNOLS et al., 2005; UHLENBRUCK, ORDER, 1991, ORTEGA et al., 1998; COURNEYA et al., 2007).
A implantação de um
programa de exercícios físicos pode ser feita em quaisquer das três fases após
o diagnóstico de câncer; porém, em cada fase, os objetivos e a consequente
modulação dos mesmos serão distintas.
Fase pré-tratamento: compreende o período entre o diagnóstico da
doença e o início do tratamento. Os objetivos serão voltados para melhora do
estado funcional geral, prevenção e atenuação do declínio funcional durante o
tratamento, auxiliar o indivíduo a enfrentar emocional e psicologicamente a
doença enquanto espera o tratamento. Para os indivíduos já praticantes de
alguma atividade física, deve-se priorizar a manutenção da atividade e, para os
não praticantes, o engajamento progressivo em um programa (MCNEELY
et al., 2006).
Durante o tratamento: o foco desta fase será voltado para
pacientes que se encontram durante o tratamento, seja ele de qualquer natureza
(cirúrgico, quimioterapia, radioterapia, hormônio, imunoterapia e transplante).
Visando atenuar os efeitos colaterais
e a toxidade dos tratamentos, manutenção das funções físicas e
composição corporal, manutenção/melhora da capacidade funcional e força
muscular (KNOLS et al., 2005), estado de humor e qualidade de vida, facilitar a
conclusão do tratamento, e potencializar a eficácia dos tratamentos (COURNEYA
et al., 2007).
Fase pós-tratamento: a abordagem neste período será direcionada
para os sobreviventes, ou seja, indivíduos que já terminaram o tratamento,
sendo o exercício essencial no processo de recuperação e otimização do estado
de saúde geral e qualidade de vida (COURNEYA et al., 2007).
Alguns estudos concluídos até o
momento mostram efeitos benéficos da atividade física contra o câncer, pois há
grande quantidade de publicações científicas sobre a importância do exercício
físico no tratamento e na reabilitação de pacientes com câncer (UHLENBRUCK,
ORDER, 1991, ORTEGA et al., 1998).
Embora diferentes estudos mostrem que
a atividade física tem contribuição na redução da mortalidade de indivíduos com
câncer e na promoção de seu bem-estar, ainda não há um consenso em relação à
intensidade, tanto nos estudo com animais quanto em humanos. Isso porque além
da dificuldade na realização de alguns estudos, também há a extensão dos tipos
de câncer e das formas de ação destes no organismo cognitivo (PEDROSO, ARAÚJO,
STEVANATO, 2005). Alguns estudos indicam que intensidade moderada de exercício
e atividades ocupacionais são a mais recomendáveis para reduzir o risco de
câncer (DORGAN et al, 1994; PAFFENBARGER, HYDE, WING, 1987; ORTEGA et al., 1998; FRIENDEREICH, COURNEYA,
BRYANT, 2001), apesar alguns estudos defenderem que os exercícios de alta
intensidade também sejam recomendáveis para reduzir o risco de câncer (DORN et al., 2006; SLATTERY, POTTER, 2002).
Todo cuidado é necessário para com
este público, logo, na minha humilde opinião, recomendo a prática de exercícios
moderados bem orientada.
Referências
COURNEYA, K. et al. Effects of Aerobic and
Resistance Exercise in Breast Cancer Patients Receiving Adjuvant Chemotherapy:
A Multicenter Randomized Controlled Trial. Journal of Clinical Oncology.
Alexandria. Vol. 25. Núm. 28. 2007 p. 4396-4404.
COURNEYA, K. S.; FRIEDENREICH, C. M. Physical
activity and cancer control. Semin Oncol Nurs. Vol. 23. 2007. p. 242-252.
DORN, J. et al. Lifetime physical activity
and breast cancer risk in pre and postmenopausal woman. Medicine and
Science in Sports and Exercise, Indianápolis. Vol. 35. Núm. 2. 2003. p.
278-285.
DORGAN, J. F. et al. Physical activity and
risk of breast cancer in the Framingham study. Am J
Epidemiol. Vol. 139. Núm. 662. 1994. 20
FRIENDEREICH, C. M.; COURNEYA, K. S.; BRYANT, H. E. Relation
between intensity of physical activity and breast cancer risk reduction.
Medicine and Science in Sports and Exercise. Indianápolis. Vol. 33. Núm. 9. 2001.
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KNOLS, R. et al. Physical exercise in cancer
patients during and after medical treatment: a systematic review of randomized
and controlled trials. J Clin Onco. Vol. 23. 2005. p.
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MCNEELY, M. L. et al. Cancer rehabilitation:
recommendations for integrating exercise programming in the clinical practice
setting. Current Cancer Therapy Reviews.Vol. 2. 2006.
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atividade física reduz o risco de câncer?. Rev Bras Med Esporte. Vol. 4.
Núm. 3. 1998.
PAFFENBARGER, R. S.; HYDE, R. T.; WING, A. L. Physical
activity and incidence of cancer in diverse populations: a preliminary report.
Am J Clin Nutr. Vol. 45. Núm. 3012. 1987.
PEDROSO, W.; ARAÚJO, M. B.;
STEVANATO, E. Atividade física na prevenção e na reabilitação do câncer.
Motriz. Vol.11. Núm. 3. 2005. p.155-160.
SLATTERY, M; L.; POTTER, J. D. Physical activity
and colon cancer: confounding or interaction?. Medicine and Science in Sports
and Exercise, Indianápolis. Vol. 34. Núm. 6. 2002. p. 913-919.
UHLENBRUCK, G.; ORDER, U. Can endurance sports
stimulate immune mechanisms against cancer and metastasis. Int J Sports
Med. Vol12. Núm. 63. 1991.