sábado, 23 de abril de 2016

Dor muscular de início tardio e treinamento força


O treinamento de força é considerado um componente primordial dos programas de condicionamento físico que têm como objetivo a melhora da aptidão física relacionada à saúde e ao desempenho esportivo (Kraemer et al., 2002; Kraemer; Ratamess, 2004). Os principais benefícios do treinamento de força estão relacionados ao aumento da força e aumento/preservação da massa magra (Kraemer et al., 2002; Kraemer; Ratamess, 2004). Esses benefícios têm impulsionado a popularidade deste método de treinamento e o número de praticantes apresentou significativo crescimento nas últimas décadas.
No entanto, os novos adeptos do treinamento de força (iniciantes) frequentemente experimentam desconforto e dor muscular após a prática. Esse fenômeno é conhecido como dor muscular de início tardio (DMIT). A DMIT ocorre, frequentemente, em indivíduos iniciantes após exercícios físicos que envolvem principalmente ações excêntricas (Cheung et al., 2003). Essa dor é caracterizada como uma sensação de desconforto na musculatura esquelética após o exercício, que atinge seu pico em entre 24 e 48h (Cheung et al., 2003; Jamurtas et al., 2005).
A DMIT é um sintoma associado à micro lesões do tecido conectivo que sensibilizam nociceptores (receptores de dor) causadas pela tensão muscular gerada pelo treinamento de força (Proske e Morgan, 2001). A ruptura da estrutura do sarcômero (unidade funcional contrátil da fibra muscular) leva a um fluxo de proteínas e biomoléculas entre os líquidos intracelular e extracelular, que leva a uma resposta inflamatória (Stauber et al., 1990), ocasionando assim a dor muscular, podendo perdurar por um ou dois dias. A DMIT é influenciada através das variáveis agudas do treinamento de força, como a intensidade e o volume, sobre a sua magnitude.
Além de praticantes de musculação, atletas de provas de endurance (maratonistas e ciclistas de longas distâncias) apontam altos níveis de DMIT (Tee et al., 2007).
A recuperação da DMIT e o seu tempo ocorre de pessoa, pois parece apresentar uma alta variabilidade interindividual (Tegedee et al., 2003). Essa variabilidade pode estar associada tanto a fatores genéticos quanto a ajustes periféricos que podem modular a sensação da dor no sistema nervoso central em diferentes níveis (Nicol et al., 2003). 
Sikorski et al. (2013) verificaram através de relatos de bodybuilders, que alguns grupos musculares são mais propensos a DMIT do que outros. Dessa forma também se desconsidera a utilização da percepção da DMIT para estimar o intervalo de treino entre os grupos musculares.
Logo, a DMIT é algo normal em praticantes de musculação e precisa de um tempo para que o grupo muscular com dor possa se recuperar. E dica: não há necessidade alguma de ingerir medicamentos anti-inflamatórios neste período de dor, pois como se pode ver é uma coisa natural do organismo e o próprio tem mecanismos para se recuperar da dor, sendo que os anti-inflamatórios também podem interferir nos resultados do treino e no processo de adaptação.

Referências

CHEUNG, K.; HUME, P.; MAXWELL, L. et al. Delayed onset muscle soreness: treatment strategies and performance factors. Sports Medicine, Auckland, v. 33, no. 2, p. 145-164, 2003.

JAMURTAS, A. et al. Comparison between leg and arm eccentric exercises of the same relative intensity on indices of muscle damage. European Journal Applied Physiology, Berlin, v. 95, no. 2-3, p. 179-185, 2005.

KRAEMER, W. J.; RATAMESS, N. A. Fundamentals of resistance training: progression and exercise prescription. Medicine and Science in Sports and Exercise, Hagerstown, v. 36, no. 4, p. 674-688, 2004. 

KRAEMER, W. J. et al. American College of Sports Medicine position stand. Progression models in resistance training for healthy adults. Medicine and Science in Sports and Exercise, Hagerstown, v. 34, no. 2, p. 364-380, 2002.

Nicol, C.; Kuitunen, S.; Kyröläinen, H.; Avela, J.; Komi, P. Effects of long-and shortterm fatiguing stretch-shortening cycle exercises on reflex emg and force of the tendon-muscle complex. European journal of applied physiology. Vol. 90. Núm. 5-6. p.470-479. 2003.

Proske, U.; Morgan, D. Muscle damage from eccentric exercise: Mechanism, mechanical signs, adaptation and clinica applications. The Journal of physiology. Vol. 537. Núm. 2. p. 333-345. 2001.

Sikorski, E. M.; Wilson, J. M.; Lowery, R. P.; Joy, J. M.; Laurent, C. M.; Wilson, S. M.; Hesson, D.; Naimo, M. A.; Averbuch, B.; Gilchrist, P. Changes in perceived recovery status scale following high-volume muscle damaging resistance exercise. The Journal of Strength & Conditioning Research. Vol. 27. Núm. 8. p. 2079-2085. 2013.

Stauber, W.; Clarkson, P.; Fritz, V.; Evans, W. Extracellular matrix disruption and pain after eccentric muscle action. Journal of Applied Physiology. Vol. 69. Núm. 3. p.868-874. 1990.

Tee, J. C.; Bosch, A. N.; Lambert, M. I. Metabolic consequences of exercise-induced muscle damage. Sports Medicine. Vol. 37. Núm. 10. p. 827-836. 2007.

Tegedee, I.; Meier, S.; Burian, M.; Schmidt, H.; Geisslinger, G.; Lötsch, J. Peripheral opioid analgesia in experimental human pain models. Brain. Vol. 126. Núm. 5. p. 1092-1102. 2003.


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