sábado, 7 de janeiro de 2012

A evolução da Fisiologia do exercício


Introdução

O nosso corpo é uma máquina extraordinária! Quando executamos qualquer atividade ele estabelece uma diversidade de fatores coordenados, que ocorrem enquanto efetuamos a leitura deste texto, por exemplo. Esses fatores permitem que funções complexas, como a audição, a visão, a respiração e o processamento de informações, continuem sem um esforço consciente (RIBEIRO; CIESLAK, 2010).
Podemos exemplificar da seguinte forma: no momento em que você levanta da cama, atravessa a porta da sua casa e caminha pela rua, grande parte dos seus sistemas corporais serão acionados, permitindo que você passe do repouso para o exercício. Caso você continue com essa rotina diariamente, durante semanas e meses, e aumentar gradualmente a duração e a intensidade de sua caminhada, o seu corpo irá sofrer uma adaptação que ocasionará uma melhora do desempenho (RIBEIRO; CIESLAK, 2010).
Durante séculos, pesquisadores estudaram fatores relacionados ao funcionamento do corpo humano. Nesse sentido, nos últimos séculos, um grupo pequeno, porém crescente, de pesquisadores centraram seus estudos no modo como o funcionamento do corpo, ou seja, a fisiologia pode sofrer alterações durante a atividade física e o esporte. O tema Evolução da Fisiologia do Exercício reflete nosso interesse e respeito pelos primeiros alicerces desse campo e as contribuições de cientistas com o passar do tempo (RIBEIRO; CIESLAK, 2010).

1.1 Aspectos conceituais

A evolução da fisiologia do exercício e do esporte ocorreu através da influência da anatomia e fisiologia. A anatomia é o estudo da estrutura, ou morfologia de um organismo. Através dela, aprendemos a estrutura básica de várias partes do corpo e suas inter-relações. A fisiologia é o estudo do funcionamento do corpo. Na fisiologia, estudamos como os sistemas orgânicos, tecidos, células e as moléculas intracelulares do nosso corpo funcionam e como suas funções são integradas para regular nosso ambiente interno. Nesse sentido, como a fisiologia está centrada nas funções de estruturas, não podemos discutir facilmente a fisiologia sem conhecer a anatomia (WILMORE; COSTILL, 2001).
A fisiologia do exercício sofreu evolução pela influência da fisiologia. O estudo da fisiologia do exercício está relacionado à forma como o corpo se adapta fisiologicamente ao estresse agudo do exercício, ou atividade física, e ao estresse crônico do treinamento físico. O conceito de fisiologia do esporte derivou da fisiologia do exercício. Ela aplica a fisiologia do exercício aos problemas exclusivos do esporte (WILMORE, COSTILL, 2001; HOFFMAN, HARRIS, 2002).
Outra definição relacionada à fisiologia é a biologia do esporte, a qual se organiza como matéria interdisciplinar sobre a ciência de constituição do corpo (anatomia) e dos processos vitais (fisiologia) do homem, e utiliza conhecimentos do estudo da hereditariedade (genética), do estudo da saúde (higiene), da pedagogia esportiva, da medicina esportiva, do estudo do treinamento, da biomecânica, do estudo do movimento, da sociologia esportiva, da psicologia esportiva, experiências das alterações e doenças do aparelho locomotor e o conhecimento do desenvolvimento psicofísico e da idade (WEINECK, 2000).

1.2 Aspectos históricos

A fisiologia do exercício surgiu na Grécia e Ásia Menor, porém os temas referentes ao exercício, esportes, jogos e saúde já preocupavam até mesmo as civilizações mais primitivas, como as culturas minoana e miceniana, os grandes impérios bíblicos de Davi e Salomão, Assíria, Babilônia, Média e Pérsia, incluindo os impérios de Alexandre. Outras referências foram registradas na Síria, Egito, Macedônia, Arábia, Mesopotâmia, Índia e China. Porém, a principal influência para a civilização ocidental veio dos médicos gregos da antiguidade, como Herodicus (século V a.C.), Hipócrates (460-377 a.C.) e Cláudio Galeno (131-201 d.C.), que propuseram várias leis e tratados para o cuidado do corpo (MCARDLE; KATCH; KATCH, 2003).
O progresso na compreensão do corpo humano ocasionou uma explosão de novos conhecimentos nas ciências físicas e biológicas que ajudaram na preparação do terreno para futuras descobertas sobre fisiologia humana durante o repouso e o exercício, vários pesquisadores foram de fundamental importância para a descoberta de muitas reações que ocorrem no corpo humano e as funções dos sistemas orgânicos, como Leonardo Da Vinci, Antoine L. Lavoisier, Lazzaro Spallanzani, Justus Von Liebig, Edward Smith e outros (RIBEIRO, CIESLAK, 2010; McARDLE, KATCH, KATCH, 2003).
O Harvard Fatigue Laboratory (Laboratório de Fadiga de Harvard) foi um ponto central no desenvolvimento da fisiologia do exercício nos Estados Unidos. O Dr. D. B. Dill dirigiu o laboratório desde sua abertura, em 1927, até o seu fechamento, em 1947. O corpo da pesquisa sobre fisiologia ambiental e do exercício, produzido pelo laboratório, constitui a base da maior parte do que conhecemos até hoje (POWERS; HOWLEY, 2005).
Algumas áreas de pesquisa do Laboratório de Fadiga de Harvard ajudaram a estabelecer a Fisiologia do Exercício como uma disciplina acadêmica, sendo elas: 1) Especificidade da prescrição do exercício; 2) Componentes genéticos da resposta ao exercício; 3) Seletividade das respostas adaptativas por parte de populações enfermas; 4) Diferenciação entre adaptações centrais e periféricas; 5) Existência de limiares celulares; 6) Ações dos transmissores e regulação dos receptores; 7) Mecanismos de transmissão e realimentação que influenciam o controle cardiorrespiratório e metabólico; 8) Mecanismo de equivalência entre fornecimento de oxigênio e demanda de oxigênio; 9) Perfil de utilização do substrato com e sem manipulações dietéticas; 10) Respostas adaptativas das unidades celulares e moleculares; 11) Mecanismos responsáveis pela transdução dos sinais; 12) Comportamento do lactato na célula; 13) Plasticidade dos tipos de fibras musculares; 14) Funções motoras da medula espinhal; 15) Capacidade dos animais com deficiências hormonais em responder as condições do exercício agudo e de exercício crônico; 16) Hipoxemia do exercício árduo (RIBEIRO; CIESLAK, 2010).
O aumento da pesquisa da fisiologia do exercício foi um catalisador que impulsionou a transformação dos departamentos de educação física em departamentos de ciência do exercício. O número de laboratórios de fisiologia do exercício aumentou drasticamente entre as décadas de 1950 e 1970. Muitos deles abordaram problemas que exigiam treinamento especializado em fisiologia humana. Essa ênfase foi substituída pelo foco sobre biologia molecular como um ingrediente essencial para a resolução de questões científicas básicas relacionadas à atividade física e à saúde (POWERS; HOWLEY, 2005).
O crescimento e o desenvolvimento de laboratórios de fisiologia do exercício entre a década de 1950 e 1960 aumentaram as oportunidades para os estudos e as pesquisas avançadas. Os graduandos desses laboratórios contribuíram com o aumento da produtividade na pesquisa e do número de revistas de pesquisas e de sociedades profissionais (POWERS; HOWLEY, 2005).
Com o objetivo de satisfazer às necessidades que o consumidor tem de informações corretas e programas sobre atividade física e saúde, os departamentos de educação física de faculdades e universidades desenvolveram novas áreas de estudos sobre fisiologia do exercício e aptidão física. Organizações como o American College of Sports Medicine desenvolveram programas de certificação para estabelecer um padrão de conhecimento e habilidade que deve ser atingido por aqueles que dirigem programas de exercícios relacionados à saúde (POWERS; HOWLEY, 2005).
O desenvolvimento histórico da Fisiologia do Exercício ilustra que o interesse no exercício e na saúde tem suas raízes na antiguidade, de modo que, durante os 2000 anos que se passaram, o campo que denominamos de Fisiologia do Exercício evoluiu de uma relação simbiótica entre os médicos com um treinamento clássico, os anatomistas e fisiologistas com bases acadêmicas e um pequeno grupo de professores de Educação Física. A criação do Laboratório de Fadiga de Harvard contribuiu para uma explosão de conhecimentos que já vinha germinando na área de Fisiologia Básica. Os avanços da Fisiologia do Exercício foram iniciados nos Estados Unidos e nos países nórdicos (Dinamarca, Suécia, Noruega e Finlândia) que disseminaram raízes para a contribuição de pesquisadores de diversos países do âmbito mundial (POWERS, HOWLEY, 2005; RIBEIRO, CIESLAK, 2010; McARDLE, KATCH, KATCH, 2003).

1.3 Prêmios importantes de grandes pesquisadores

August Krogh foi agraciado com o Prêmio Nobel de Fisiologia ou Medicina em 1920, Archibald Hill e Otto Meyerhof compartilharam o Prêmio Nobel de Fisiologia ou Medicina em 1922. Os três receberam este Prêmio Nobel por trabalhos relacionados aos músculos ou ao exercício muscular.
Os pesquisadores Perl-Olof Astrand (1973), Erling Asmussen (1979), Erik Hohwu-Christensen (1981), Bengt Saltin (1990) e Martti J. Karvonen (1991) receberam a menção honrosa do American College of Sports Medicine (ACSM).
Os pesquisadores Erling Asmussen (1976), Bengt Saltin (1980), Lars A. Hermansen (1985) e C. Gunnar Blomqvist (1987) receberam o prêmio de citação do American College of Sports Medicine (ACSM).


Referências bibliográficas

McARDLE, W.; KATCH, F. I.; KATCH, V. L. Fisiologia do exercício: energia, nutrição e desempenho humano. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 2003.

POWERS, S. K.; HOWLEY, E. T. Fisiologia do exercício: teoria e aplicação ao condicionamento e ao desempenho. 5 ed. Barueri: Manole, 2005.

RIBEIRO, A. S.; CIESLAK, F. Licenciatura em Educação Física: Fisiologia do exercício. Ensino à distância. Universidade Estadual de ponta Grossa, 2010.

WEINECK, J. Biologia do Esporte. Barueri: Manole, 2002.

WILMORE, J. H.; COSTILL, D. L. Fisiologia do Esporte e do Exercício. 2 ed. Barueri: Manole, 2001.

2 comentários:

  1. quais os pontos positivos e quais os negativos da fisiologia do exercicio?

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    1. Os pontos positivos são que a Fisiologia do exercício têm como objetivos estudar como os sistemas orgânicos, tecidos, células e as moléculas intracelulares do nosso corpo funcionam e como suas funções são integradas para regular nosso ambiente interno (neste caso, integração com o exercício); entender e compreender com o corpo se adapta fisiologicamente ao estresse agudo do exercício ou atividade física e ao estresse crônico do treinamento físico, com isso analisar e aprender como fisiologia humana pode sofrer alterações durante a atividade física e o esporte. Sendo que a Fisiologia do Exercício é importante para o profissional de Educação Física na hora de prescrever exercícios, pois sem ela não compreenderíamos como funciona os mecanismos corporais durante a realização do exercício físico e o porquê de passar determinado treino para determinado indivíduo, além do mais, os alunos gostam de tirar suas dúvidas com o profissional, e geralmente as dúvidas têm relação com a atividade física ou exercício físico.

      Bem... já os pontos negativos são que a Fisiologia do Exercício é uma ciência, e como toda ciência há contradições entre vários autores de livros e artigos e muitas vezes não se chega num consenso ou numa validação de determinado tema, por isso há muitas pesquisas no mundo acadêmico e até mesmo profissional, há produção de vários artigos para atualizar os profissionais e estudantes e até leigos em saúde e áreas afins e pode-se notar que os livros sempre têm várias edições, por exemplo o livro de McArdle está na sétima edição, para tentar atualizar os assuntos o máximo possível e a Fisiologia Humana e do Exercício não são que nem a Matemática uma ciência exata, por isso há muitas pesquisas que são ou que precisam ser feitas.

      Espero ter ajudado nas suas dúvidas e muito obrigado pela sua atenção meu caro leitor!

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